23 Maio
Hoje chove a cântaros.
Ainda não tinha visto chover assim... parece que o céu resolveu baldear a terra. As ribeiras transbordaram e as estradas transformaram-se em rios, houve “estradas” que desapareceram, no seu lugar ficaram charcas enormes que chegam a entrar por casas e tornam inacessíveis carros e motas apanhados desprevenidos pela enxurrada.
Neste dia somos prisioneiros da chuva e das circunstâncias. Desde ontem à tarde que a cena nacional aqueceu de novo e hoje recebemos indicações para “limitar-mos a circulação ao indispensável”. Já não recebia-mos mensagens da embaixada à duas semanas.
As expectativas colocaram-se sobre o dia da independência. Previam que com a aproximação dessa data fosse sucedendo uma escalada de contestação e violência. Mas essa data passou até de uma forma bastante calma e ordeira... estavam a deixar passar a maior...
De qualquer das maneiras, já habituados à situação, não nos deixamos ir abaixo e tocamos a vida para a frente. Mas nada de grandes aventuras... sobretudo a solo!
Na reunião de emergência convocada à duas semanas pela embaixada de Portugal a situação foi explicada. Nada que já não soubesse-mos. Mas deram-nos alguns inputs novos. “Tenham a mala sempre a postos mas no máximo com 15 kg!. E quando receberem a mensagem dirijam-se todos para a casa do embaixador!”, ora logo aqui a coisa falha... pelas razões que já expliquei! A mensagem não chega e a mala nunca está mesmo já feita! Quando dermos pelo alarido nas ruas já não há tempo para pensar em mais nada, é localizar o pessoal e rumar para o centro.
Claro que houve logo confusão e reclamações! As pessoas nestas situações fazem as perguntas mais idiotas! “Quem paga a viagem? e as crianças quem lhes paga o bilhete? E quem garante o isto e aquilo? E os nossos bens??” O adido da segurança e o embaixador tiveram que aguentar o barco e acalmar os ânimos.
As pessoas pensam que a embaixada tem responsabilidades sobre a sua segurança e obrigação de a garantir. Essa foi uma lição que os mais “distraídos” aprenderam. Cada um está por si. Cada um é dono do seu próprio nariz. Se não gostam da situação façam as malas e amanhã metam-se num avião! Quando existe força nacional armada no território pode ser diferente, mas neste caso não... e para além disso a embaixada faz os possíveis, mas não consegue dar garantias!
E os filhos? São da responsabilidade dos pais! E os bens? 15 kg...
As perguntas (e os consequentes comentários) eram de tal modo descabidas por parte de certas pessoas que o ambiente na sala já era de discreta galhofa e risada... Até que o dono de um restaurante local se chateou e pôs os pontos nos ís! Há quem tenha muito tempo e dinheiro investido neste país e esteja a viver estes momentos com maior aperto.
Também convenha-mos... o embaixador deu o mote para a coisa descambar... dizer em alto e bom tom que devíamos começar a tratar dos vistos para entrar na Austrália... e depois tentar emendar a mão com um “mas tenho a certeza que em situação de emergência não será necessário”, foi lindo! Aqui toda a gente sabe que não é preciso visto para entrar na Austrália.
Não aprendi nada de novo mas a reunião foi importante. Já era tempo da embaixada se dirigir directamente á população tuga residente. No fim as pessoas estavam menos apreensivas.
E mais, constatei que nesta pequena cidade ainda há muita gente portuguesa que não conheço.
Hoje já é dia 24. A situação piorou bastante e o governo de Timor já pediu ajuda internacional. Hoje aterra um avião do exército australiano... é pena as coisas terem que chegar a isto. Para o povo timorense é um revés na moral. Para Timor é péssimo!... ficar a dever favores a nações tão “interessadas em ajudar”... principalmente numa altura em que se estão a definir relações comerciais importantes, como o concurso que decorre para escolher as empresas que vão explorar o petróleo do mar de Timor... não é famoso.
Nada disto é famoso... Vamos ver no que isto dá.
Ainda não tinha visto chover assim... parece que o céu resolveu baldear a terra. As ribeiras transbordaram e as estradas transformaram-se em rios, houve “estradas” que desapareceram, no seu lugar ficaram charcas enormes que chegam a entrar por casas e tornam inacessíveis carros e motas apanhados desprevenidos pela enxurrada.
Neste dia somos prisioneiros da chuva e das circunstâncias. Desde ontem à tarde que a cena nacional aqueceu de novo e hoje recebemos indicações para “limitar-mos a circulação ao indispensável”. Já não recebia-mos mensagens da embaixada à duas semanas.
As expectativas colocaram-se sobre o dia da independência. Previam que com a aproximação dessa data fosse sucedendo uma escalada de contestação e violência. Mas essa data passou até de uma forma bastante calma e ordeira... estavam a deixar passar a maior...
De qualquer das maneiras, já habituados à situação, não nos deixamos ir abaixo e tocamos a vida para a frente. Mas nada de grandes aventuras... sobretudo a solo!
Na reunião de emergência convocada à duas semanas pela embaixada de Portugal a situação foi explicada. Nada que já não soubesse-mos. Mas deram-nos alguns inputs novos. “Tenham a mala sempre a postos mas no máximo com 15 kg!. E quando receberem a mensagem dirijam-se todos para a casa do embaixador!”, ora logo aqui a coisa falha... pelas razões que já expliquei! A mensagem não chega e a mala nunca está mesmo já feita! Quando dermos pelo alarido nas ruas já não há tempo para pensar em mais nada, é localizar o pessoal e rumar para o centro.
Claro que houve logo confusão e reclamações! As pessoas nestas situações fazem as perguntas mais idiotas! “Quem paga a viagem? e as crianças quem lhes paga o bilhete? E quem garante o isto e aquilo? E os nossos bens??” O adido da segurança e o embaixador tiveram que aguentar o barco e acalmar os ânimos.
As pessoas pensam que a embaixada tem responsabilidades sobre a sua segurança e obrigação de a garantir. Essa foi uma lição que os mais “distraídos” aprenderam. Cada um está por si. Cada um é dono do seu próprio nariz. Se não gostam da situação façam as malas e amanhã metam-se num avião! Quando existe força nacional armada no território pode ser diferente, mas neste caso não... e para além disso a embaixada faz os possíveis, mas não consegue dar garantias!
E os filhos? São da responsabilidade dos pais! E os bens? 15 kg...
As perguntas (e os consequentes comentários) eram de tal modo descabidas por parte de certas pessoas que o ambiente na sala já era de discreta galhofa e risada... Até que o dono de um restaurante local se chateou e pôs os pontos nos ís! Há quem tenha muito tempo e dinheiro investido neste país e esteja a viver estes momentos com maior aperto.
Também convenha-mos... o embaixador deu o mote para a coisa descambar... dizer em alto e bom tom que devíamos começar a tratar dos vistos para entrar na Austrália... e depois tentar emendar a mão com um “mas tenho a certeza que em situação de emergência não será necessário”, foi lindo! Aqui toda a gente sabe que não é preciso visto para entrar na Austrália.
Não aprendi nada de novo mas a reunião foi importante. Já era tempo da embaixada se dirigir directamente á população tuga residente. No fim as pessoas estavam menos apreensivas.
E mais, constatei que nesta pequena cidade ainda há muita gente portuguesa que não conheço.
Hoje já é dia 24. A situação piorou bastante e o governo de Timor já pediu ajuda internacional. Hoje aterra um avião do exército australiano... é pena as coisas terem que chegar a isto. Para o povo timorense é um revés na moral. Para Timor é péssimo!... ficar a dever favores a nações tão “interessadas em ajudar”... principalmente numa altura em que se estão a definir relações comerciais importantes, como o concurso que decorre para escolher as empresas que vão explorar o petróleo do mar de Timor... não é famoso.
Nada disto é famoso... Vamos ver no que isto dá.
7 Comments:
Diogo,
vem mas é embora dessa terra!
as noticias que aqui chegam são gradualmente piores.
aproveita a confusão e dirige-te à embaixada de Portugal que os tipos assumem o teu repatriamento.
sei que tens espirito aventureiro... mas olha que estar vivo é só o melhor que podemos ter nesta nossa já curta passagem.
Abração,
Carlos
Olá Dieguito,
Parabens pelo blog, very nice, very nice indid. Bem sei que há muito não falamos, só espero que estejas a aproveitar o máximo dessa terra que aparenta ser o paraíso...não fossem estes últimos acontecimentos. No entanto, e apesar dos perigos, quantos de nós poderão sentir emoções tão fortes como as que vives neste momento? Take care and good luck!
Pessoal! Gostei muito dos comentários mas já agora... quem é o hulk e a xica de la vega :)?!? Gostava de poder associar palavras a caras!
Quantas xicas conheces? Francisca do Puerto Carágo! That's my artistic name.
Ora muito bem dona xica! Gostei muito de a lêr... então como vai tudo pela terra de granito? Tudo em cima? e tens razão! a outra xica que eu conheço ainda não sabe escrever... é o canideo que guarda o atelier da parede! he, he, eu pensei logo em ti mas n estava a ver como sabias do meu blog.
beijinhos e vai dando noticias!
Manda o teu mail para voltaemeia@gmail.com
tinhas razão, adorei a foto do palhaço a surfar..aproveita
ao maximo enquanto ai estiveres ... junta-te aos rebeldes!
um abraço e tem cuidado.
Recentemente imigrado para terras do norte de Portugal. Foi descoberto que o grande Hulk vive na Guarda.
Vai dando mais noticias, pois as que chegam cá é que o pessoal vai saindo os outros, tá tudo nos copos do hotel Timor!
Espero que a malta se entenda.
Um grande abraço
Mário
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